Nothing But Thieves nos dá as boas-vindas ao Dead Club City
Entrevista para o site Mixdown (Austrália)
Data: 28/03/2024
Texto original: Redação Mixdown
O quarto álbum do Nothing But Thieves, “Dead Club City”, foi lançado em 2023 e ganhou uma versão deluxe, juntamente com a passagem da banda pela Austrália entre abril e maio (de 2024).
Há anos, Nothing But Thieves vem construindo sua própria identidade com um rock industrial pesado, infundido com eletrônica, para o público, fazendo sucesso na cena internacional com a estreia do “self-titled” (auto-intitulado) álbum. Em 2017, o disco “Broken Machine” os elevou ainda mais, antes de “Moral Panic”, de 2020, elevá-los à fama global com sucessos como "Is Everyone Going Crazy?", "Phobia" e muito mais!
O quarto álbum da banda, “Dead Club City”, foi lançado em 2023 e ganhou uma versão deluxe, juntamente com a passagem da banda pela Austrália entre abril e maio (de 2024). Antes da turnê, tivemos a chance de conversar com os guitarristas Dom Craik e Joe Langridge-Brown, sendo Dom também produtor do “Dead Club City”.
Rapazes, parabéns pelo lançamento do “Dead Club City Deluxe”, bem como pelo novo single "Oh No :: He Said What?" Vocês já são conhecidos por fazerem músicas grandiosas - de onde veio "Oh No :: He Said What?"
Joe: Dom, você escreveu aquele riff [de guitarra] há muito tempo, não foi?
Dom: Sim, eu não sei exatamente quando foi. Mas, basicamente, eu tinha esse riff porque eu comprei um sintetizador novo e estava adorando mexer nele, tinha um certo tipo de som. Então, eu mostrei para os meninos. Eu não acho que foi um daqueles momentos em que alguém sabia para onde a música nos levaria. Às vezes começamos algo e ficamos, tipo: "ah, está indo nessa direção, vamos seguir com isso. Parece que quer ir por ali". Mas com essa, estávamos meio que um pouco perdidos, e eu diria que talvez isso tenha acontecido pela primeira vez nessa música. Talvez "Oh No :: He Said What?" tenha passado pelo maior número de composições e reescritas de todo o nosso repertório. Tentamos e falhamos muitas vezes, e acho que realmente fizemos algo como 20 demos diferentes para essa música. Mas o que amamos nela foi esse clima sombrio e dançante, e ela estava alinhada com “Welcome To The DCC”. Foi desafiador, mas uma das maiores recompensas. Acho que nos apaixonamos pela música no final das contas e sabíamos que queríamos que ela fosse um single. Foi um trabalho árduo, mas que valeu a pena.
Joe: Na verdade, só conseguimos acertar o refrão no final do tempo que tínhamos de estúdio, foi durante a gravação. Na verdade, nem tínhamos terminado quando estávamos entrando no estúdio.
Dom: Isso é bastante raro para nós, normalmente entramos [no estúdio] bem preparados. Tudo está escrito, as demos estão prontas, sabemos as estruturas, enquanto "Oh No :: He Said What?" foi feita no estúdio, como Joe disse. Acho que isso nos deixa um pouco desconfortáveis, mas, ao mesmo tempo, você está trabalhando em uma situação de alta pressão. Você tem limitações de tempo e isso precisa funcionar. Então, talvez haja uma lógica nisso por esse motivo.
Vocês estão pensando em como as músicas vão se traduzir ao vivo enquanto estão escrevendo?
Dom: Acho que estamos cada vez menos preocupados com isso. Você percebe muito rapidamente que é muito óbvio, não é Joe, que se torna restritivo.
Joe: Definitivamente.
Dom: E eu não sei nem como você faria isso, para ser honesto. Seria um pesadelo. Vocês estariam discutindo cada movimento, tipo: "bem, como vamos fazer isso?". Isso desaceleraria todo o processo.
Joe: O mantra é mais ou menos assim: "bem - isso vai ter que soar legal". De alguma forma, vamos fazer parecer bom. Temos que fazer.
Dom: Temos nos tornado bons em deixar de lado o pensamento sobre como vai soar ao vivo e eu realmente acho que isso permite uma maior experimentação. E queremos que o show ao vivo cresça. Talvez não tenhamos a resposta de como vamos alcançar esse objetivo ao vivo naquele momento em que estamos escrevendo, porém, eventualmente, nós vamos e, em paralelo, o show ao vivo inevitavelmente evolui também. Então, não é uma coisa ruim de jeito nenhum.
Como você acha que estar envolvido na produção do álbum impactou o resultado final?
Dom: Eu realmente gostei. Não sei se, necessariamente, teria sido capaz de fazer isso em outro álbum, porque aprendi tanto neste [“Dead Club City”]. Acho que ter fé e acreditar nos meninos, e acreditar que eu poderia fazer isso com a ajuda das pessoas certas, foi muito tranquilizador e firmador. Mas eu não sei, eu coleciono muitos equipamentos e sintetizadores, amplificadores e pedais, todas essas coisas boas, é o que faço no meu tempo livre basicamente. Estou sempre procurando um bom negócio em algum equipamento antigo, ou assistindo a um vídeo sobre algo ou lendo em algum fórum sobre o que alguém usou nos anos 1960 e 1970. Isso é meio que meu “hobby de nerd”. E, geralmente, as pessoas conversam sobre o que fazem fora da banda. "Qual é o seu hobby?". Eu não tenho nada, pra ser sincero. Sou um perdedor. Literalmente, só olho para equipamentos e toco música. Era um hobby, mas agora todas as linhas estão borradas. Sendo honesto, não consigo responder [essa pergunta] porque nunca se sabe qual seria o resultado se tivéssemos escolhido outro produtor ou se tivéssemos feito o álbum de uma maneira diferente. Você simplesmente não sabe. Mas estamos orgulhosos. Então, eu diria que, no geral, o impacto foi bom.
Joe: O cara se saiu bem!
Vocês (seja Dom ou como banda) acham difícil delimitar o processo de composição, demo, produção e gravação das músicas ou seguem etapas separadas?
Dom: Eu diria que não.
Joe: Eles meio que se confundem conforme [ o processo] acontece. Existem coisas difíceis às quais aderimos. Normalmente, bem no início do processo, escreverei coisas no meu celular para o próximo álbum, ideias que podem acontecer, apenas letras aleatórias ou palavras que eu gosto do som quando juntas. Sempre começa assim, muito, muito no início. Mas tudo se confunde à medida que avançamos.
Dom: Sim, o som e as ideias de como a música é estruturada são estabelecidos nas primeiras demos. E se isso não acontecer, não sentimos conexão, não seguimos adiante se não parecer que soa certo ou nos causa um certo sentimento. Honestamente, às vezes existem demos em que nem mesmo há letras, mas você apenas sente algo. E, na verdade, isso é um caminho bem longo para o Joe trilhar. Não falando por você, mas sei que já conversamos sobre isso antes.
Joe: Sim, e às vezes não há regras! Às vezes eu chego com algo e fico: "eu sinto que a música deveria soar um pouco assim. Este é o que estou sentindo". Porém, em outros momentos pode ser algo completamente diferente com as letras. Isso cria uma espécie de magia no fato de que elas não são iguais. Não somos bons o suficiente para ter uma fórmula para tudo isso. Acontece da forma que tem que acontecer. Brincamos com o suficiente e, de repente, algo soa vagamente bom, acho.
Onde e como o álbum “Dead Club City” foi gravado?
Dom: Encontramos um estúdio bem decadente em nossa cidade natal, Essex, e decidimos mantê-lo de uma maneira diferente. Queríamos ter mais tempo para que pudéssemos alugar o que era um celeiro modificado e construir um estúdio de acordo com as nossas especificações. E foi incrível que a RCA, nossa gravadora, com quem temos uma parceria há quase 10 anos agora, deixasse a gente fazer isso. Eles realmente acreditaram em nós e isso significava que poderíamos ficar lá por muito mais tempo do que se você voasse para Los Angeles. Você teria que pagar por vistos, voos, Airbnbs, todas essas coisas adicionais. E por causa disso, você só pode ficar lá por quatro a seis semanas e depois tem que voltar.
Joe: E o produtor!
Dom: E o produtor, o que é um pouco caro. Mas essa foi uma abordagem diferente. Acho que, olhando para trás, o tempo foi o que tornou o álbum bem-sucedido aos nossos olhos. Você tem uma perspectiva. É meio óbvio, não é?! Quanto mais tempo você tem - se souber quando parar -, você pode construir algo ótimo.
Joe: "Oh No :: He Said What?" não teria sido lançada, por exemplo. Não teríamos aquela música que, de alguma forma, se tornou um single se não fizéssemos isso dessa maneira.
Dom: O mesmo teria acontecido com "Do You Love Me Yet?".
Joe: Sim, nada disso teria acontecido sem esse tempo [de estúdio]. O tempo e estar naquele espaço por um longo período significaram que poderíamos terminar a música. Isso é definitivamente uma lição que aprendemos para o futuro.
Dom: Você também perguntou sobre overdubs* e tal. Não somos o tipo de banda em que há cinco de nós numa sala e, de repente, começamos a tocar juntos. Não fazemos assim. Normalmente, trabalhamos a partir das demos porque trabalhamos muito nelas, acertando as coisas. São principalmente overdubs, mas algumas coisas das demos são mantidas. É uma combinação de coisas. Acho que fazer isso com cinco caras na sala pode ser bem limitante para nós. Talvez funcione para outras pessoas?
*Overdub (overdubs, overdubbing - também conhecido como camadas) é uma técnica usada quando as faixas de áudio pré-gravadas (demos) são reproduzidas e estudadas, enquanto novas faixas são gravadas ou adicionadas simultaneamente.
Joe: Acho que depende do que você está fazendo. Seria tão limitante fazer isso em um álbum como este.
Dom: Para um álbum como este que soa assim seria desafiador, com certeza.
Os últimos anos foram grandiosos para vocês - o que vem pela frente?
Dom começa a olhar em volta de seu quarto de hotel em busca de inspiração.
Dom: Vou começar uma linha de roupas, talvez.
Dom pega um pacote de gomas de aloe vera e o aponta para a câmera da videochamada.
Também vou começar uma marca de doces de aloe vera depois disso. Olha só. Isso é o tipo de coisa que você encontra em um hotel. São gomas de aloe vera, mas tenho quase certeza de que é uma planta de maconha do lado.
Joe: Para mim, provavelmente, algo genérico vai render muito dinheiro.
Dom: Sim, vamos abandonar a música e vender tudo.
Joe: [Risos] Sim, vamos vender tudo!
Dom: Vocês têm “Shark Tank” na Austrália? Vamos preparar a apresentação de um produto e esse será o nosso, vocês nos verão lá. Tem muitas coisas, mas se você quiser investir nesta marca desconhecida, sinta-se à vontade.
Comments